Livro A Cidade da Lua

Primeiro Capítulo



Walter
Júnior


A Cidade da Lua




Volume I

2014

Prólogo


“Em uma pequena cidade onde fiquei hospedado durante uma de minhas viagens pelo interior nordestino, conheci um alguém que transformaria minha forma – até aquele momento imodificável – de pensar e viver, pois tudo o que ele me ensinaria e mostraria, poucos teriam a capacidade, mas existia algo nele que o tornava diferente, em breve descobriria isso. Seu nome era João de Valença.
A Cidade da Lua me fez crescer em espírito e em sabedoria, pois todos que conheci naquele místico local, sejam eles bons ou ruins, humanos ou não, ensinaram-me coisas essenciais para a vida. Ali aprendi que devemos seguir nosso caminho sem medo e sempre confiar em nossas intuições, pois existem anjos que trabalham ao nosso favor, acreditem, anjos existem.
Por mais surreal que pareça acreditar nesses seres angelicais, eles estão mais próximos de nós do que imaginamos, alguns deles até sentem inveja de nós por sermos tão amados pelo Criador ao ponto de sermos feitos sua imagem e semelhança. Posso afirmar isso com a autoridade de quem conhece bem o assunto, pois convivi com esses seres e tive a honra de saber que um anjo precisava de minha ajuda.
Os dias que ali passei não foram fáceis, eu assumo, na verdade quase enlouqueci tentando descobrir os mistérios que a luz da lua trazia sobre aquela cidade. Tentava desesperadamente encontrar a razão para tantos segredos e lendas, que faziam os habitantes daquele lugar temerem sair após o sol haver se posto, principalmente em noites de Lua Cheia.
Algumas pessoas com quem conversei falavam de uma antiga profecia, outros diziam acreditar que um demoníaco ser subia do inferno para atormenta-los, mas existiam alguns que acreditavam na história de um anjo havia se apaixonado por uma bela mulher que ali morava e com ela havia gerado um filho, quebrando assim os preceitos angelicais sendo amaldiçoado a vagar pelas noites, sofrendo pela mulher amada que nunca mais poderá tornar a ver.
Todos tinham sua versão de como havia nascido esse mistério que ronda o anoitecer, mas até aquele momento eram meras teorias, cabia a mim descobrir qual delas seria a verdadeira, ou então, provar de uma vez por todas que aquilo não passava de um folclore, como muitos que conhecemos, tais como Saci Pererê, Mula Sem Cabeça, a lenda do Boto, etc.”
Tomei mais uma taça de vinho e fiquei apreciando o sol descer no horizonte, o entardecer manchava o céu com lindos tons de laranja, aquele espetáculo da natureza me levava a um estado espiritual tão profundo que podia ouvir o cântico dos anjos saudando a chegada da noite.
Já haviam se passado alguns meses desde que tudo aconteceu, mas ainda não havia compartilhado com ninguém sobre aquela minha aventura, afinal, quem iria acreditar em mim. Charles era um grande amigo e após todo esse tempo, percebi que poderia narrar para ele aqueles incríveis momentos que vivi naquela cidade.
Aqui, na solidão do quarto de hotel onde estou hospedado nessa minha viagem a Jerusalém que para mim é uma cidade sagrada e que me faz sentir-me mais perto de Deus, comecei a escrever tudo aquilo que ainda está vivo em minha memória daqueles dias que passei na Cidade da Lua. Materializei nas palavras tudo o que vi, senti e vivenciei.
- Enviarei amanhã mesmo esta carta para o Charles, só espero que ele não queira me internar em uma clínica para loucos, após ler o que está escrito. Pensei.
Independentemente do que acharem de mim, se acreditam ou não em anjos, eu sei o que Deus espera e pensa de mim, só isso importa. Seja sonho, realidade ou loucura, minha vida mudou por completo e espero um dia novamente encontrar aquela cidade, mas principalmente encontrar aqueles que lá conheci e quem sabe, novamente está face a face com um anjo.


Capítulo I

Nesses seis meses viajando por cidadelas, em minha jornada pelo interior nordestino, encontrei inúmeros olhares que caminhavam nas margens daquelas estradas de chão batido, rostos empoeirados e um calor escaldante. O sol já estava sinalizando o fim de mais um dia. Os pássaros já faziam sua dança naquele entardecer, um balé encantador que os levavam pouco a pouco aos galhos daquelas árvores que ainda resistiam bravamente à falta de chuvas no seio deste imenso sertão.
Cheguei a rodoviária por volta das cinco horas da tarde, estava a cerca de uma semana visitando alguns amigos em uma cidade de pouco mais de vinte mil habitantes no interior da Bahia. Fui até o guichê e como era de costume, pedi uma passagem para qualquer local no nordeste, tinha apenas uma exigência, não poderia ser nenhuma das grandes cidades da região, quanto menos habitantes houvesse lá, melhor seria e assim o atendente fez.
- Você não está fugindo da polícia – perguntou o atendente - ou está? Nós dois rimos.
- Não, pode ficar tranquilo! Respondi sem entrar em detalhes.
Peguei a passagem sem olhar o destino. Desde que iniciei minha jornada, alguns meses atrás nunca escolhi o local para onde iria, pois assim oferecia a oportunidade para que Deus pudesse guiar meus passos e dessa forma, ensinar-me aquilo que ele achasse necessário para meu crescimento espiritual.
Naquele tempo eu estava totalmente estressado com a vida “cotidiana” – ou seja, estressante - de São Paulo, foi quando decidi largar tudo e voltar a fazer o que sempre amei, viajar. Dessa vez, porém, me propus a vivenciar uma aventura diferente, pois decidi trocar os países europeus, as savanas africanas e as ruínas de Machu Picchu no Peru – típicos locais que eram destinos certos em minhas viagens – por cidades minúsculas e bucólicas no sertão do nordeste brasileiro, as quais poucas pessoas conhecem, mas que guardam uma riqueza cultural enorme.
O ônibus não demorou muito a chegar, me despedi de Charles e Beatriz, o casal de amigos que tão bem me acolheram em sua casa e vieram me acompanhar até a rodoviária.
- Foi muito bom ter você em nossa casa durante esses dias – disse Charles - volte em breve para nos visitar e conhecer nossa filha – Beatriz estava grávida e dentro de duas semanas daria a luz a primeira filha do casal – mas pelo o que conheço de você Luiz, acho que apenas voltaremos a nos encontrar novamente quando nossa filha se formar na faculdade. Nos abraçamos sorrindo.
Entrei no ônibus e busquei o assento que estava marcado no bilhete, alguns outros passageiros também entraram, mas por sorte ninguém sentou ao meu lado e assim eu poderia buscar uma posição mais confortável para viagem.
Peguei minha mochila e retirei dela um livro que ganhei de Charles, a coloquei no porta bagagem do ônibus e comecei a ler. O livro falava de anjos e o modo que podemos identifica-los em nosso dia-a-dia, ele era pequeno, mas muito interessante, talvez ele me ajudasse a controlar a minha ansiedade de saber onde aquele ônibus me levaria e quais aventuras me esperavam.
Gostei bastante de uma parte em específico daquele livro, estava no final do sétimo capítulo e dizia o seguinte:
“Encontrei em um belo dia um anjo sentado na beira de uma estrada. Maltrapilho, pele suja e malcheiroso - a dias não se alimentava. Ofereci-lhe então alguns biscoitos e uma camisa que carregava na mochila, dei-lhe também um pouco de água para saciar sua sede.
Perguntei de onde ele vinha, para onde ia, o que estava fazendo naquele lugar.
- Ando por esse mundo a anos, não tenho cidade natal e nem destino certo, sou um simples andarilho, que vive as custas da bondade humana. Sim, ainda existe bondade no coração dos homens, ela apenas está adormecida e essa é minha missão, despertar a bondade que está em um sono profundo por toda humanidade, mas não depende apenas de mim. Muitos antes de ti, nem ao menos notaram a minha presença quando por aqui passaram, outros me veem como um câncer para sociedade, como um lixo que suja suas ruas, como um animal desprezível, sem valor, sem direitos, sem dignidade. Mas acredito que se em toda minha existência, os poucos que como você me olharam com decência conseguirem influenciar outros a agir com bondade e compaixão, buscando ser como uma centelha de fogo capaz de causar um grande incêndio, esse mundo poderá novamente ser chamado de lar e seus habitantes de humanos. Disse Ele.
Fiquei estático ouvindo aquelas palavras, lágrimas rolaram de meu rosto, agradeci e despedi-me daquele homem. Dei alguns passos e olhei para trás, lá estava ele ainda, sentado, esperando outro alguém passar para que assim como fez comigo, pudesse mudar a sua vida.
Ele era apenas mais um ser de carne, osso e alma, assim como eu, mas sei também, que havia nele a essência angelical, por um único motivo, o amor com que dizia aquelas palavras, revelavam as suas asas. “
A leitura daquele livro era tão envolvente que não vi o tempo passar e senti quando o ônibus parou. Havíamos chegado a uma pequena cidade, desci em um singelo terminal de passageiro e percebi que ali o tempo parecia ter estacionado.
Estávamos em 2007, porém, senti-me como se aquele ônibus tivesse nos conduzido ao século XIX. Casas em um estilo ainda colonial, um ar oligarca soprava ali. Achei estranho nunca ter ouvido falar daquele pequeno local que mais parecia um cenário de novela de época e com uma beleza tão exuberante que jamais havia visto, nem mesmo nos mais belos cenários europeus.
Peguei o mapa que carregava em minha mochila e procurei localizar-me, todavia, para minha surpresa, naquele ponto existia apenas uma estrada, onde mostrava que a cidade mais próxima estava a cerca de 20 km de onde estávamos. Achei estranho, mas logo pensei que ele deveria estar errado, um esquecimento por parte do cartógrafo que impediu a inclusão daquele místico lugar.
Comecei minha intervenção turística, registrava com minha câmera cada canto, cada pedaço de chão. Tudo parecia haver sido colocado exatamente em seu lugar para encantar todos que ali chegassem. Aquelas casas, aquelas pessoas que por mim passavam com trajes épicos encantavam-me. Senti como se fosse uma criança ao entrar em uma loja de brinquedo, não havia nada ali que não me agradasse. Ficava encantado por ver aqueles homens e mulheres que mantinham vivos em seu cotidiano costumes colonialistas.  
Aproximou-se de mim um senhor, com seu terno preto, chapéu de massa, pessoa de boa aparência. Um típico barão.
Parei imediatamente de fotografar e fiquei olhando para ele e alegrei-me por imaginar que logo faria minha primeira amizade naquele local.
Alguns metros antes de chegar até o lugar onde eu estava, com um sorriso no rosto, acenou e cumprimentou-me:
- Boa noite, Senhor!
- Boa noite amigo. Respondi.
- Não costumo ver-te aqui nesta cidade, de onde tu és, por acaso estás perdido? Perguntou Ele.
- Sou um viajante. Estou conhecendo nosso imenso país, fugindo porém, das grandes cidades, o que me proporcionou encontrar, por acaso, essa bela cidadela, que mesmo ainda não havendo a conhecido por completo, apenas ao ver este estilo colonial já encantou-me.
- Muito bem. Posso saber qual o seu nome? Indagou o homem.
- Me chamo Luiz Fascinni, prazer em conhecê-lo.
Fiquei um pouco desconfortável com aquelas perguntas vindas de alguém que parecia estranhar minha presença naquele lugar, todavia, a minha curiosidade para saber mais sobre a cultura local prendeu-me aquele diálogo.
Após alguns segundos de silêncio, nós dois ali parados, ele então estendendo a mão em forma de cumprimento disse:
- Bem vindo sejas tu a cidade da Lua. Chamo-me João de Valença. Espero que sua estadia seja agradável e que não estranhe aquilo que poderás ver em nossas ruas, principalmente hoje, pois a lua cheia traz consigo mistérios. Indico que procures logo um lugar onde poderás hospedar-se, logo à frente temos um cortiço com boas instalações. Vá até lá, procure por Dona Maria Augusta e diga que eu lhe recomendei essa hospedagem, mas não saia até o amanhecer. Amanhã, mais calmamente, continuaremos nossa prosa. Preciso apressar-me antes que a lua esteja alta no céu.
Após falar isso, sem dar-me tempo de questionar aquela chuva de informações, simplesmente virou as costas e saiu apressadamente.
Vi quando Ele entrou em um estreito beco.
Foi quando decidi ir atrás dele.
Como ele podia dizer tudo aquilo e sair desse modo? – pensei comigo mesmo.
Corri até o beco, mas já não pude mais vê-lo.
Pronto. O que já era estranho agora ficou indecifrável.
Cidade da Lua?
Mistérios?
Sair só ao amanhecer?
Onde estou?
Quem é afinal esse homem tão estranho que segundo Ele se chama João de Valença?
Quantas perguntas aquele pouco tempo de conversa fez jorrar em minha mente. Comecei então a rir ao perceber que aquele homem estava na verdade fazendo algum tipo de brincadeira comigo.
Ah! Com certeza, ele notou que eu não era daqui, pois sou o único que aparentemente veste roupas dessa década. Fiquei mais aliviado e decidi não pensar mais naquele assunto.
O cansaço começou a tomar conta de mim, a final, foram doze longas horas dentro do ônibus desde a última cidade onde parei. Eu estava precisando urgentemente tomar um bom banho, não via à hora de trocar aquelas roupas que estavam cheias da poeira da estrada, a qual, havia se misturado com o suor do meu corpo.
O calor daquele imenso sertão fez-me transpirar como se estivesse participando de um infindável jogo de futebol.
          Lembrei-me então do cortiço que aquele homem havia me indicado. Sorrindo, murmurei:

- Espero que não seja mais uma brincadeira do João.
Comecei então a dirigir-me ao local indicado por Ele.
Ao caminhar por aquela rua misteriosa, o breu da noite já deixava tudo sombrio, quase já não se via pessoas nas calçadas, tudo o que era belo e encantador estava se tornando como uma tenebrosa e tensa cidade fantasma.
Não havia iluminação pública, a única luz vinha daquela gigantesca lua que já brilhava no horizonte. Um belo espetáculo da natureza. Tão lindo, perfeito e majestoso, que me fez esquecer o medo.
Parei e por alguns instantes fiquei admirando aquele belo espetáculo. Abri meus braços, fechei os olhos por um momento e fiz uma singela oração:
“Senhor, obrigado por ter me guiado até aqui com segurança, guarda-me debaixo de tuas asas. Que esta lua seja como teu olhar sobre mim, que as estrelas sejam como os anjos que tu envias-te para proteger-me durante minha jornada.
Guia meus passos e revela-me os segredos dessa cidade. Pois como sempre, creio que se me trouxeste até aqui, algum motivo há. Que eu possa estar sensível para aprender tudo aquilo que queres me ensinar. Amém.”
Ao encerrar essa oração, senti um grande arrepio, minhas pernas tremeram e então decidi apressar meus passos em busca do cortiço.

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